Mukhallad al-Walid

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Arábia Saúdita, judeu, Saudi Arabia
[Pra cada Timbre um Sentimento Diferente]

quinta-feira, maio 29, 2008

[Pelo imaculado coração de Maria]

"Sois bendita, oh!, Virgem das virgens! Que os céus bendigam o Vosso nome! Que ele seja lembrado e amado por todas as gerações! Com a Vossa vida destes exemplo de santidade à humanidade, porque encontrastes graça diante do Pai que Vos escolheu para serdes a Mãe de Deus e a Mãe da Humanidade.Amém!"

[...]

Tenho mantido algum silêncio, pelo tempo exaustivo de trabalho que me desgasta, e também pelo tempo de reflexão que me acompanha.Este blogue começou por ser uma 'folha de afectos'... marcas profundas de sentires e sentimentos que me doíam e me asfixiavam. Assim, mesmo sem eu querer, tornou-se um lugar de culto. Aqui escrevi em noites tantas vezes do amanhecer, fragmentos de muito de mim... alegrias, tristezas, saudade, morte, prazeres estéticos, e tantos outros aspectos de que me rodeio nas noites de invernia ou de outono, como esta de luar escondido a anunciar que os tempos de bruma se aproximam.Vários ciclos de vida se fecharam ao longo destes anos. Alguns aceitei ou optei por fechá-los... outros se fecharam abruptamente, deixando marcas de mágoas no meu âmago que necessito 'curar' ou apenas 'fingir' que esqueço!Não vou dizer que termino por aqui... para depois voltar! Tenho visto isso e não quereria deixar passar uma falsa mensagem!Prefiro dizer que não sei... com fortes probabilidades de não voltar. Mas aqui virei, carinhosamente, algumas noites, tal rito de amor sentido, reler o que escrevi e os afectos que despertei nos que me visitaram. Alguns depositaram promessas de grandes amores que deixaram rapidamente morrer... mas mesmo assim, eu guardo em mim tais íntimas e doces palavras. Pertencem-me porque me foram dadas!Afinal, eu preferiria a vida, lá fora! Pessoas, as que me gostariam, um olhar nos olhos, um tocar, afagar... quando assim se sente e necessita! Sinto-me bem quando demonstram que 'me' gostam!"Eu nunca guardei rebanhos,Mas é como se os guardasse.Minha alma é como um pastor,Conhece o vento e o solE anda pela mão das EstaçõesA seguir e a olhar.Toda a paz da Natureza sem genteVem sentar-se a meu lado.Mas eu fico triste como um pôr de solPara a nossa imaginação,Quando esfria no fundo da planícieE se sente a noite entradaComo uma borboleta pela janella.[...]

quarta-feira, maio 28, 2008

[Anjo da Noite]

[Sentimentos feitos de Ação]

De quando as nossas olheiras reflectiam o escuro das noites em que nos afogávamos no Amor, debatendo-nos como gatos escaldados à tona; de quando os cantos da minha boca, revirados para cima, refractavam a luz que então nos inundava os dias, como aqueles rectângulos de Sol que se esgueiram pelas portadas entreabertas e banham os soalhos das casas felizes. Esse quando, que há muito esgueirou os seus contornos ondulados para lá da linha do horizonte e me pôs a fitar o nada, de mãos em pala sobre os olhos, à espera de ver surgir lá longe um remoinho de poeira, levantado pelo tropel de uma paixão que quereríamos de novo embalada numa fúria trovadora. Inimigos de nós mesmos em tantas batalhas perdidas, confesso-me quase cega (pelas frestas das pálpebras cansadas, nada nos enxergo de jeito); amblíope estou de certeza, embora ainda te espreite as veias (salientes do esforço de viveres) pelo canto do meu olho esquerdo, que rebola desemparelhado numa urgência recognitiva. Nem que me ampares, nem que me ajudes a atravessar-nos nos locais assinalados: uma bengala e um cão, é só o que te peço.
O sexo, despiciendo, belíssimo, descartável, que fazemos por estes dias a fio (presos por um fio), empecilha-nos. A cada projecto de saída tua, enrodilhamo-nos os corpos e baralham-se-nos as coordenadas das certezas absolutas. Por mais que nos tracemos azimutes nas costas do outro, não há meio de a urgência dorida deste prazer redescoberto nos indicar um rumo sofrível. Não mais deves soçobrar a tua perna direita sobre a minha anca, enquanto presumivelmente sonhas com o abarcanço de outras ancas; e eu não devo continuar a encaixar-me em ti nem a dar-te ao encosto a minha nuca (suada do destilar dos meus pesadelos). Preciso de espraiar o espírito no à-vontade de uma cama vazia e pretendo ocupar os lençóis todos, fazer-me a eles como uma sem-terra. Vou arrebanhar todos os centímetros que foram teus, açambarcar-te as almofadas e repôr, com fúria marxista, a justiça socio-doméstica no interior destas quatro paredes. Por isso, não me sorrias nem me peças desculpa, sentida e pungentemente, a cada virar de costas, porque lá vou eu que te abro os braços e te mergulho em vôo e a pique, uma e outra vez. E para quê, diz-me? A superestrutura deste desejo súbito não reflecte, nem por um bocadinho, a verdade da nossa infraestrutura abalroada pelos anos.

[edward scissors hands]

O mais estranho, é que gosto mesmo de ti. Gosto moderadamente dos amigos e tolero os colegas, a porteira, a empregada e o antunes do supermercado. Mas de ti, gosto mesmo. A tua lembrança é um prazer que desliza, surripiando-me; chegas de repente, agradável como uma brisa quente ou uma boa notícia, e eu imagino-nos cenários, não amorosos nem eróticos, mas, antes, de circunstância: encontros fortuitos, casuais, um pequeno-almoço, um relance de carro, um telefonema, uma gargalhada, um encontro de pulsos, de tornozelos. Faço-o sem qualquer expectativa romântica ou intuito amistoso: és menos do que um amante e mais do que um amigo. Não que me sejas mais próximo ou íntimo, porque não o és, mas porque, mesmo longínquo, me exaltas e entreténs, ocupando o meu espírito movediço e centrando-o, como a perspectiva de ir de férias ou de casar amanhã. Não me iludo, não é disso que se trata: apenas te construo em mim, uma e outra vez, como uma primeira dentada antecipando a gula, lenta e deliberada. Nunca o esmaecer do teu rosto me angustia, antes, enleva-me e inspira-me, soalheiro. Há momentos em que te conduzo para sítios bonitos de cartaz, como jardins secretos e praias desertas, e onde te vejo ao meu lado como se estivesses mesmo. Ali, entabulo conversas, contradigo-te e acotovelo-te, deixando que me faças cócegas e me olhes longamente, como os casais nas fotografias. Encontro-te no estame de uma flor, na caruma dos pinheiros e na linha do horizonte: basta-me olhar com atenção. E cheiras sempre bem: uma mistura de pólenes, resinas e maresias, da qual sobressai o travo adocicado do desejo, quieto como as nuvens mais altas. Acima de tudo, enterneces-me. E é esta perenidade mansa, que não reconhece o escavar do tempo, que não pede retorno e se basta em si mesma, que às vezes me inquieta e assusta, nem sei bem porquê.

[Dracula]

Mais um dia perdido, em que não me rompo a placenta deste querer nascituro que me berra aos ouvidos, insatisfeito de fome. Mais um dia em que me embalo e aconchego no quentinho das lembranças e das vontades por cumprir, que nascem do rasto mentiroso das primeiras. Não sei se te dê a mão e te pegue ou te deixe na roda do convento para que outras te amparem, ou então te esqueça para sempre no canto mais remoto do infantário, enroscado no teu umbigo a murmurares-me colo. Não sei se te puxe, se te empurre, se te amarre uma venda e te rodopie obrigando-te à cabra cega, ou se te dê o peito e te alimente como uma loba que se rói de prazer e saiamos por aí a fundar cidades, daquelas importantes, rodeadas de portos marítimos bons para o comércio e para as guerras. Dava-me um jeito danado, esquecer-me da superlatividade dos teus beijos. Acredita que deitaria muitas menos palavras fora.

[Músicas da minha vida]